Influência do Comprimento dos Cabos em Cálculos de Curto Circuito

Influência do Comprimento dos Cabos em Cálculos de Curto Circuito

Artigo publicado na Revista Lumière, edição de setembro de 2011, p. 64-78.

Resumo

O objetivo deste artigo é estabelecer um comparativo entre os níveis de curto circuito em média e baixa tensão, calculados em diferentes cenários de contribuição da concessionária e variações nos comprimentos dos cabos de alimentação.

Palavras Chave: Cálculo de Curto Circuito, Estudo de Seletividade

Introdução

Cálculos de curto circuito e estudos de seletividade são atividades fundamentais dentro de um projeto elétrico industrial, sobretudo nos dias de hoje, em que, cada vez mais, os sistemas de produção são bastante dependentes de fontes confiáveis de energia elétrica.

Uma parte importante dos cálculos de curto circuito está relacionada ao tratamento matemático que se dá aos cabos de alimentação, sejam eles em média ou baixa tensão. Na prática, é comum se desprezar pequenos lances de cabos (ou apenas trabalhar com comprimentos estimados), por acreditar-se que os mesmos não tem significativa influência nos cálculos. Por outro lado, há quem defenda a máxima precisão em todos e qualquer comprimento de cabo, situação esta, que em determinados casos, pode trazer desnecessárias dificuldades para os cálculos e levantamentos em campo, sem que isto represente incremento qualitativo nos estudos.

Neste artigo, apresentaremos na seção 1, uma breve discussão teórica sobre o cálculo de curto circuito. Na seção 2 será abordada a metodologia simplificada para cálculos de curtos circuitos trifásicos. A seção 3 apresenta dois exemplos de cálculo para pontos distintos de um sistema teórico, com alimentação em 13.800V e painéis de baixa tensão alimentados através de transformadores. A seção 4 aborda a influência do comprimento dos cabos do sistema nos níveis de curto circuito onde serão apresentados os resultados de simulações feitas com a utilização do software PTW versão 6.5.2.7, módulo Dapper, variando-se o nível de curto-circuito na entrada do consumidor, o comprimento dos cabos de alimentação geral, o comprimento dos cabos de alimentação dos transformadores e o comprimento dos cabos de alimentação dos painéis gerais de baixa tensão do sistema. Finalmente, na seção 5, destacam-se as principais conclusões deste trabalho.

1. Teoria básica sobre cálculos de curto circuito em instalações elétricas industriais Correntes de Curto Circuito tem seu valor dependente, basicamente, das impedâncias entre a fonte e o ponto onde ele ocorre (barramentos, cabos, terminais de máquinas). Determinados tipos de carga, como motores, por exemplo, também contribuem para a elevação dos níveis de curto-circuito, entretanto, sua influência é, em geral, muito menor que a da concessionária. Neste artigo, não será abordada a influência dos motores nos níveis de curto-circuito. Desta maneira o curto-circuito será considerado uma função apenas das impedâncias entre a concessionária e o ponto de curto-circuito.

Segundo Mamede Filho (2010), pontos afastados do sistema de geração são fortemente influenciados pela impedância das linhas de transmissão, pois sua impedância é muito superior à dos geradores. Desta maneira a corrente de curto-circuito apresenta dois componentes básicos em sua formação, apresentados graficamente na figura 1.1:

– Componente Simétrica: como o próprio nome mostra, é parte simétrica da corrente, que predomina no curto-circuito após alguns ciclos. – Componente Contínua: sua característica contínua tem o valor decrescente devido ao fato da impossibilidade do fluxo magnético variar bruscamente dentro de um sistema.

Forma de onda da corrente durante um curto-circuito

Figura 1.1 – Forma de onda da corrente durante um curto-circuito (Fonte: SKM, 2006a, 2006b)

Metodologia Simplificada para Cálculo de Curto Circuito trifásico

O método mais utilizado para cálculos de curto circuito, na prática, é o do sistema de valores por unidade, também conhecido como “pu”. O valor das grandezas elétricas (tensão, corrente, potência, impedâncias, etc.) é definido pela razão entre o valor real desta grandeza e o valor adotado como base.

A principal vantagem deste método refere-se ao fato de termos níveis diferentes de tensão em nossos circuitos, devido à presença de transformadores. Desta maneira, com a utilização dos valores em pu, os transformadores são representados por uma impedância, como se a relação do mesmo fosse 1:1, simplificando os cálculos.

A fim de exemplificar os estudos neste trabalho, todas as análises serão realizadas com base no sistema teórico apresentado no diagrama da figura 2.1.

Diagrama Unifilar do sistema

Figura 2.1 – Diagrama unifilar do sistema teórico a ser estudado

2.1 Definição das Bases

Inicialmente devem-se escolher as bases a serem utilizadas para os cálculos em pu. Em geral, utiliza-se o valor típico de 100MVA para a potência base (Pb).

Pb = 100MVA (2.1) Para a tensão base (Vb), é comum utilizarmos a maior tensão do sistema em questão, para o nosso caso, trabalharemos com um sistema em 13.800V: Vb = 13.800 V (2.2)A partir destes valores podemos calcular a corrente base (Ib):

Corrente base

2.2 Impedância e Níveis de Curto Circuito da Concessionária

A Impedância pode ser dada pela concessionária diretamente em pu ou caso seja dada em Amperes deve-se calcular o valor em PU

Z1(pu)concess. = Ib / Icc3øsimconcess. (2.4) Sendo: Icc3øsimconcess – Corrente de Curto-Circuito Simétrica Trifásica no ponto de entrega da concessionária. Ib – Corrente Base. Z1(pu)concess – Impedância de Sequência Positiva no ponto de entrega da concessionária.

2.3 Impedância dos Transformadores.

Impedância do transformador

Sendo: Z1(pu)trafo, R1(pu)trafo, X1(pu)trafo – Impedância, Resistência e Reatância Indutiva de Sequência Positiva do Transformador Z% – Impedância percentual do transformador (dado de placa) Pt – Potência do Transformador (em VA) Pb – Potência Base (100 MVA)

2.4 Impedância dos Cabos

Impedância dos cabos

cabo – resistência, reatância indutiva e impedância de sequência positiva do cabo. Rpor metro e Xpor metro – resistência e reatância indutiva por metro (dados do fabricante). Pb – Potência Base (100MVA) V – Tensão nominal do circuito do cabo (em Volts) Dist – distância (em metros) ncpf – número de cabos por fase

2.5 – Correntes de Curto Circuito Trifásicas

Cálculo da corrente de curto circuito trifásico

Sendo: Icc3øsim – Corrente de Curto Circuito Simétrica. Ib – Corrente Base. Z(pu) – Impedância equivalente em cada ponto em pu. Icc3øassim – Corrente de Curto Circuito assimétrica. e – número de Euler (2,71828) π – “pi” (3,14159) X/R – Razão entre a reatância indutiva de sequência positiva e a resistência de sequência positiva no ponto onde se deseja calcular o curto-circuito assimétrico.

Exemplo de cálculo de curto circuito trifásico

A fim de exemplificar as equações apresentadas na seção 2 e atestar a eficácia dos cálculos elaborados nas simulações realizadas no software PTW versão 6.5.2.7 apresentamos os cálculos dos níveis de curto circuito feitos para o sistema exemplificado na figura 2 considerando também os dados das tabelas 3.1 a 3.4.

Tabela 3.1 – Dados da Concessionária

Nível de Curto Circuito no Ponto de Entrega (A) Relação X/R
5.000 8

Tabela 3.2 – Impedância dos Cabos de Média Tensão

Cabo Resistência de Sequência Positiva por metro (Ω/km) Reatância Indutiva de Sequência Positiva por metro (Ω/km)
50mm2 (8,7/15kV) 0,4938 0,1551
35mm2 (8,7/15kV) 0,6684 0,1651
25mm2 (8,7/15kV) 0,9272 0,1726

 

Tabela 3.3 – Impedância dos Cabos de Baixa Tensão

Cabo Resistência de Sequência Positiva por metro (Ω/km) Reatância Indutiva de Sequência Positiva por metro (Ω/km)
25mm2 (0,6/1kV) 0,9362 0,1150
240mm2 (0,6/1kV) 0,1009 0,0980
185mm2 (0,6/1kV) 0,1303 0,0980

Fonte: Catálogo Ficap, cabos Fipex 0,6/1kV, singelos, instalados em trifólio

Tabela 3.4 – Dados dos Transformadores

Transformador Potência (kVA) Tensão (V) Impedância Percentual (Z%) Resistência Percentual (R%)
TR01 2.000 13.800 – 440/254 6,5% 1,1%
TR02 112,5 13.800 – 220/127 4,49% 2,56%

 

3.1 Cálculo das impedâncias do sistema em pu

Considerando nossas bases como sendo Pb = 100MVA e Vb=13.800V e aplicando-se a equação 2.4 aos dados da concessionária (tabela 3.1) obtêm-se os resultados conforme a tabela 3.5:

Tabela 3.5 – Valores das Impedâncias da Concessionária em pu

Resistência de Sequência Positiva em pu Reatância Indutiva de Sequência Positiva em pu
0.103785 0.830278

Aplicando-se a equação 2.8 aos cabos obtêm-se os resultados conforme a tabela 3.5:

Tabela 3.5 – Valores das Impedâncias dos Cabos em pu

Cabos Bitola / Isolação Distância Cabos por fase Resistência de Sequência Positiva em pu Reatância Indutiva de Sequência Positiva em pu
Cabo MT Geral 50mm2 (8,7/15kV) 20 m 1 0.0052 0.0016
Cabo MT TR01 35mm2 (8,7/15kV) 20 m 1 0.0070 0.0017
Cabo MT TR02 25mm2 (8,7/15kV) 20 m 1 0.0097 0.0018
Cabo BT TR01 240mm2 (0,6/1kV) 20 m 8 0.1303 0.1265
Cabo BT TR02 185mm2 (0,6/1kV) 20 m 1 5.3843 4.0496

Aplicando-se as equações 2.5, 2.6 e 2.7 aos transformadores teremos os resultados conforme a tabela 3.6:

Tabela 3.6 – Valores das Impedâncias dos Transformadores em pu

Transformador Potência (kVA) Tensão (V) Resistência em pu Reatância Indutiva em pu
TR01 2.000 13.800 – 440/254 0.5500 3.2031
TR02 112,5 13.800 – 220/127 22.7556 32.8000

 

3.2 Cálculo das impedâncias equivalentes em pu para vários pontos do sistema

A impedância equivalente na SE-Geral é dada pela soma vetorial das impedâncias da concessionária e do Cabo MT Geral:

ZeqSE-Geral = Zconcess + Zcabo MT Geral = 0,103785 + j 0,830278 + 0,0052 + j0,0016 ZeqSE-Geral = 0,108985 + j0,831878 pu ZeqSE-Geral = 0,8390 pu (ângulo = 82,53o)Aplicando-se as equações 2.11 e 2.12 temos os valores de curto-circuito para a SE-Geral:

Icc3øsim SE-Geral = 4.183,70 / 0,8390 = 4.986A Icc3øassim SE-Geral = 6.834AA impedância equivalente no primário do TR-01 (SE-TR01) é dada pela soma vetorial das impedâncias da concessionária, Cabo MT Geral e cabo MT TR01:

ZeqSE-TR01 = Zconcess + Zcabo MT Geral + Zcabo MT TR01 = 0,103785 + j 0,830278 + 0,0052 + j0,0016 + 0,0070 + j0,0017 ZeqSE-TR0l = 0,115985 + j0,833578 pu ZeqSE-TR0l = 0,8417 pu (ângulo = 82,07o)Aplicando-se as equações 2.11 e 2.12 temos os valores de curto-circuito para a SE TR-01:

Icc3øsim SE-TR01 = 4.183,70 / 0,8417 = 4.971 A Icc3øassim SE-TR01 = 6.732 A. Efetuando-se os cálculos para os demais pontos do sistema, de maneira análoga, teremos os resultados conforme a tabela 3.7, onde são apresentados os valores de curto circuito trifásico simétrico e assimétrico, devendo-se observar que, para os pontos localizados na baixa tensão, os níveis já foram calculados para a tensão nominal de cada painel, ou seja, o resultado obtidos através das fórmulas 2.11 e 2.12 já foi multiplicado pela relação de transformação.

Tabela 3.7 – Níveis de Curto Circuito trifásico calculados

Ponto Tensão (V) Zeq (pu) Icc3øsim (A) Relação X/R: Icc3øassim (A)
Entrada Consumidor 13800 0.8367 5000 8 6914
SE Geral 13800 0.8390 4986 7.63 6834
SE TR01 13800 0.8417 4971 7.19 6732
SE TR02 13800 0.8421 4968 7.02 6698
PGBT-01 440 4.2388 30956 5.23 39173
PGBT-02 220 47.1018 5572 1.33 5621
CCM01 440 4.8518 27045 3.54 31304
CCM02 440 5.4926 23890 2.81 26329
CCM03 440 6.1524 21327 2.41 22843
CCM04 440 6.8259 19223 2.15 20228
QLF01 220 79.2611 3311 0.63 3311
QLF02 220 115.6912 2268 0.45 2268
QLF03 220 153.3784 1711 0.36 1711

 

4. Análise da Influência do Comprimento de Cabos de Baixa e Média Tensão nos Cálculos de Curto Circuito

Com o intuito de analisar as variações dos níveis de curto circuito a partir de diversos comprimentos de cabos e diversos níveis de curto circuito de entrada foram realizados simulações em 150 diferentes, sendo eles:

  • Para cada um dos níveis de Curto-Circuito de Entrada iguais a 3.000 A, 4.000 A, 5.000 A, 6.000 A e 7.000 A foram realizados:
  • – Simulações Variando o comprimento do Cabo MT Geral (0, 20, 40, 60, 80, 100, 120, 140, 160, 180 e 200 m).
  • – Simulações Variando o comprimento dos Cabos MT TR 01 e MT TR02 (0, 20, 40, 60, 80, 100, 120, 140, 160, 180 e 200 m).
  • – Simulações Variando o comprimento dos Cabo BT TR 01 e BT TR02 (0, 20, 40, 60, 80, 100, 120, 140, 160, 180 e 200 m).

De maneira simplificada, a tabela 4.1 apresenta os cenários onde foram efetuadas as simulações:

Nível de Curto Circuito Trifásico Simétrico no Ponto de Entrada
Cabo 3.000 A 4.000 A 5.000 A 6.000 A 7.000 A
Cabo MT Geral 10 cenários 10 cenários 10 cenários 10 cenários 10 cenários
Cabo MT TR 02 10 cenários 10 cenários 10 cenários 10 cenários 10 cenários
Cabo BT TR 01 10 cenários 10 cenários 10 cenários 10 cenários 10 cenários
Cabo BT TR 02 10 cenários 10 cenários 10 cenários 10 cenários 10 cenários

Neste trabalho, não está em discussão o dimensionamento dos cabos, apenas a sua influência nos cálculos de curto circuito, portanto, não foram levados em conta os níveis de queda de tensão provocados pelos mesmos em situações normais de operação.

4.1 Análise dos níveis de curto circuito variando-se o comprimento do Cabo MT Geral.

Após a simulação dos cenários envolvendo diversos níveis de curto circuito na entrada do consumidor e variações do cabo MT Geral obtém-se os resultados apresentados nas figuras 4.1 a 4.5.

Nível de curto circuito trifásico simétrico variando comprimento do cabo

Figura 4.1 – Níveis de curto circuito trifásico simétrico em SE Geral em função do curto circuito trifásico simétrico na Entrada do Consumidor para 3 comprimentos do cabo MT Geral Pode-se verificar no gráfico apresentado na figura 4.1, que as variações no comprimento do cabo de entrada provocam variações nos níveis de curto circuito entre 1% (Icc de entrada = 3000A) e 2,44% (Icc entrada = 7000A) para cada 100m de cabo.

Nível de curto circuito trifásico no TR1

Figura 4.2 – Níveis de curto circuito trifásico simétrico em SE TR01 em função do curto circuito trifásico simétrico na Entrada do Consumidor para 3 comprimentos do cabo MT Geral

Nível de curto circuito trifásico no TR2

Figura 4.3 – Níveis de curto circuito trifásico simétrico em SE TR02 em função do curto circuito trifásico simétrico na Entrada do Consumidor para 3 comprimentos do cabo MT Geral Da mesma forma que na figura 4.1, as figuras 4.2 e 4.3 mostram que as variações no comprimento do cabo de entrada provocam variações nos níveis de curto circuito entre 0,97% (Icc de entrada = 3000A) e 2,48% (Icc de entrada = 7000A) para cada 100 m.

Nível de curto circuito trifásico no PGBT1

Figura 4.4 – Níveis de curto circuito trifásico simétrico no PGBT01 em função do curto circuito trifásico simétrico na Entrada do Consumidor para 3 comprimentos do cabo MT Geral

A figura 4.4 mostra que as variações no comprimento do cabo de entrada provocam variações nos níveis de curto circuito no PGBT01 entre 0,32% (Icc de entrada = 3000A) a 0,39% (Icc de entrada = 7000A) para cada 100 m.

Nível de curto circuito trifásico no PGBT2

Figura 4.5 – Níveis de curto circuito trifásico simétrico no PGBT02 em função do curto circuito trifásico simétrico na Entrada do Consumidor para 3 comprimentos do cabo MT Geral A figura 4.5 mostra que as variações no comprimento do cabo de entrada provocam variações nos níveis de curto circuito no PGBT02 entre 0,05% (Icc de entrada = 3000A) e 0,07% (Icc de entrada = 7000A) para cada 100 m.

4.2 Análise dos níveis de curto circuito variando-se o comprimento do Cabo MT TR01

De maneira análoga ao apresentado no item 4.1, foram realizadas simulações variando-se o comprimento do cabo MT TR01 para diversos níveis de curto circuito de entrada e os resultados estão apresentados a seguir nas figuras 4.6 e 4.7.

Nível de curto circuito trifásico no TR1 variando cabo TR01

Figura 4.6 – Níveis de curto circuito trifásico simétrico na SE TR01 em função do curto circuito trifásico simétrico na Entrada do Consumidor para 3 comprimentos do cabo MT TR01 No gráfico da figura 4.6, percebe-se que as variações no comprimento do cabo de MT TR01 provocam variações nos níveis de curto circuito entre 1,14% (Icc de entrada = 3000A) e 2,99% (Icc de entrada = 7000A) para cada 100 m, valor muito próximo ao verificado nos gráficos 4.1, 4.2 e 4.3.

Nível de curto circuito trifásico no PGBT1 variando alimentação TR01

Figura 4.7 – Níveis de curto circuito trifásico simétrico no PGBT01 em função do curto circuito trifásico simétrico na Entrada do Consumidor para 3 comprimentos do cabo MT TR01 No gráfico da figura 4.7, as variações no comprimento do cabo de MT TR01 provocam variações nos níveis de curto circuito entre 0,34% (Icc de entrada = 3000A) e 0,46% (Icc de entrada = 7000A) para cada 100 m, valor muito próximo ao verificado na figura 4.4.

 

4.3 Análise dos níveis de curto circuito variando-se o comprimento do Cabo MT TR02

Nesta etapa do trabalho, foram realizadas simulações variando-se o comprimento do cabo MT TR02 para diversos níveis de curto circuito de entrada e os resultados estão apresentados a seguir nas figuras 4.8 e 4.9.

Nível de curto circuito trifásico no TR2 variando cabo TR02

Figura 4.8 – Níveis de curto circuito trifásico simétrico na SE TR02 em função do curto circuito trifásico simétrico na Entrada do Consumidor para 3 comprimentos do cabo MT TR02 Na figura 4.8, verifica-se que as variações no comprimento do cabo de MT TR02 provocam variações nos níveis de curto circuito entre 1,37% (Icc de entrada = 3000A) e 3,81% (Icc de entrada = 7000A) para cada 100 m, valor muito próximo ao verificado nos gráficos 4.1, 4.2 , 4.3 e 4.6

Nível de curto circuito trifásico no PGBT2 variando alimentação TR02

Figura 4.9 – Níveis de curto circuito trifásico simétrico no PGBT02 em função do curto circuito trifásico simétrico na Entrada do Consumidor para 3 comprimentos do cabo MT TR02 No gráfico da figura 4.7, as variações no comprimento do cabo de MT TR01 provocam variações nos níveis de curto circuito entre 0,09% (Icc de entrada = 3000A) e 0,11% (Icc de entrada = 7000A) para cada 100 m, valor muito próximo ao verificado na figura 4.5.

4.4 Análise dos níveis de curto circuito variando-se o comprimento do Cabo BT TR01

Nesta etapa das simulações, variou-se o comprimento dos cabos BT TR01 para diversos níveis de curto circuito de entrada e os resultados estão apresentados a seguir na figura 4.10.

Nível de curto circuito trifásico no PGBT1 variando cabo TR01

Figura 4.10 – Níveis de curto circuito trifásico simétrico no PGBT01 em função do curto circuito trifásico simétrico na Entrada do Consumidor para 10 comprimentos do cabo BT TR01 No gráfico da figura 4.10, as variações no comprimento do cabo de BT TR01 provocam variações nos níveis de curto circuito ente 15,34% (Icc de entrada = 3000A) e 19,29% (Icc de entrada = 7000A) para cada 100 m, valor muito superior aos verificados nas simulações onde se variavam os cabos de média tensão.

4.5 Análise dos níveis de curto circuito variando-se o comprimento do Cabo BT TR02

Na última etapa das simulações, variou-se o comprimento dos cabos BT TR02 para diversos níveis de curto circuito de entrada e os resultados estão apresentados a seguir na figura 4.11.

Nível de curto circuito trifásico no PGBT2 variando cabo TR02

Figura 4.11 – Níveis de curto circuito trifásico simétrico no PGBT02 em função do curto circuito trifásico simétrico na Entrada do Consumidor para 10 comprimentos do cabo BT TR02 No gráfico da figura 4.11, as variações no comprimento do cabo de BT TR02 provocam variações nos níveis de curto circuito ente 37,26% (Icc de entrada = 3000A) e 49,27% (Icc de entrada = 7000A) para cada 100 m, valor muito superior aos verificados nas simulações onde se variavam os cabos de média tensão.

Nota-se também na figura 4.11 que o curto circuito praticamente independe do nível de curto-circuito da entrada do consumidor, ficando sujeito apenas às impedâncias do cabo e do transformador, visto que tais impedâncias são muito superiores à da concessionária.

Conclusões

Agrupando-se os resultados obtidos após as simulações, tem-se os valores conforme a tabela 5.1.

Tabela 5.1 – Variação dos níveis de curto circuito trifásico simétrico para cada 100m de Cabo

Variação % de Curto Circuito Trif. Sim. Para cada 100m de Cabo
Cabo SE-Geral SE-TR01 SE-TR02 PGBT01 PGBT02
MT-Geral 1,00% a 2,44% 0,97% a 2,48% 0,97% a 2,48% 0,32% a 0,39% 0,05% e 0,07%
MT-TR01 1,14% a 2,99% 0,34% e 0,46%
MT-TR02 1,37% a 3,81% 0,09% e 0,11%
BT-TR01 15,34% a 19,29%
BT-TR02 37,26% e 49,27%

De maneira geral, pode-se concluir que variações nos comprimentos dos cabos de alimentação são muito mais significativas na baixa tensão quanto comparadas as variações dos cabos em média tensão.

Uma análise mais aprofundada nos resultados obtidos a partir da variação do comprimento dos cabos de média tensão nos mostra variações entre 0,05% e 3,81%, sendo o primeiro valor encontrado no PGBT02 variando o cabo MT Geral com Icc de entrada de 3.000A e o segundo na SE-TR02, variando o cabo MT-TR02 com Icc de entrada igual a 7.000A.

A partir destes dados pode-se fazer uma análise comparativa das variações nos níveis de curto circuito provocadas pelos cabos de média tensão com a precisão de transformadores de corrente utilizados para proteção (que em geral é de 10%). Desta maneira, pode-se admitir que variações de até 100m nos cabos de média tensão representam variações pouco significativas nos cálculos, cabendo ao projetista analisar a necessidade de considerá-los ou não em seus estudos.

Por outro lado, as simulações realizadas variando-se o comprimento dos cabos de baixa tensão nos mostram variações entre 15,34% e 49,27% nos níveis de curto circuito, sendo 15,34% calculados para o PGBT01 com variações de 100m do cabo BT TR01 e Icc de entrada em 3.000A e 49,27% no PGBT02 para variações de 100m do cabo BT TR02 com Icc de entrada de 7.000A.

Desta maneira, pode-se concluir que as corretas características e comprimento dos cabos de baixa tensão são fundamentais para a obtenção de resultados confiáveis nos cálculos de curto circuito, destacando-se principalmente, as características e o comprimento dos cabos entre os transformadores e os painéis gerais de baixa tensão.

A necessidade da correta determinação dos níveis de curto-circuito na Baixa tensão é um fato que está intimamente ligado ao estudo de seletividade, principalmente quanto aos ajustes dos dispositivos de proteção na média tensão (relés), que em geral, tem suas proteções instantâneas ajustadas para atuar para valores superiores aos maiores níveis de curto circuito assimétrico presentes na baixa tensão.

Caso os valores de curto circuito na baixa tensão não estejam corretamente calculados, o projetista pode ser levado, de maneira equivocada, a ajustar os relés de média tensão para valores muito baixos, deixando o sistema sujeito problemas de seletividade, ou para valores muito elevados, fazendo com que eventuais curtos circuitos (entre os terminais de BT dos transformadores e os terminais de entrada do disjuntor geral dos painéis gerais de baixa tensão) sejam percebidos apenas pelas proteções temporizadas dos relés de média tensão.

Bibliografia

J. Mamede Filho, Instalações Elétricas Industriais, Rio de Janeiro, LTC, 2010

SKM Systems Analysis, Inc. Power Tools for Windows – A Fault Reference Manual – Electrical Engineering Analysis Software for Windows, Manhattan, USA, SKM, 2006a.

SKM Systems Analysis, Inc. Power Tools for Windows – A Fault Reference Manual – Electrical Engineering Analysis Software for Windows, Manhattan, USA, SKM, 2006b.

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